Inovação ou Involução?

Ao iniciar a leitura da reportagem da Revista Exame publicada no dia 29/06 sobre o Caso da Empresa Contabilizei, a primeira sensação que tive foi de alegria “puxa, vejam até aonde a profissão contábil está chegando com a revolução digital”.

http://exame.abril.com.br/pme/noticias/contabilizei-recebe-investimento-da-kaszek-ventures

Mas então, quando chegamos na parte final da reportagem, aonde se destaca que o preço do serviço apresentado para atender uma empresa do Lucro Presumido é de $ 99 por mês, na hora veio a sensação: como assim?
De fato, sabemos de vários casos em que empresas contábeis reduzem seus honorários para angariar clientes. E em alguns casos, empresas que nem são do ramo, como ficou famoso o caso do site ContadorAmigo:

http://www.portalcfc.org.br/noticia.php?new=7429

O problema, neste caso mais recente, é que a abordagem é muito profissional. E com um grande grupo de Venture Capital por trás, o potencial do negócio é bem maior. Aliás, se um grande investidor se prontificou a apoiar o projeto, é porque não identificou riscos potenciais de descontinuidade (acredito que deve ter contado com vários analistas jurídicos e de negócios para apoiar sua decisão).

Ou seja, diferente de muitas iniciativas de contabilistas que cobram barato, mas não prestam o serviço prometido, a empresa se compromete a preparar mensalmente todas as obrigações legais com Receita Federal e Prefeitura, incluindo cálculo dos impostos, emissão de guia de impostos, pró-labore dos sócios, obrigações acessórias como DCTF, EFD Contribuições, SPED Contábil, ECF, preparar relatórios contábeis assinados (DRE, Balanço Patrimonial, Balancete, etc) ... tudo isso por $ 99,00 mensais.

Está certo que o foco no momento são clientes prestadores de serviço com até 2 sócios, sem funcionários e com faturamento mensal de até R$ 25.000,00. Mesmo assim, lidar com a Lei 12.973/14, CPC PME/ITG 1000, Malha Fina da PJ, Retenções de Impostos, entre outros assuntos que permeiam a prática contábil atual mesmo em empresas de pequeno porte, é algo desafiador. Não duvido que a empresa possa dispor de uma tecnologia fabulosa e profissionais extremamente produtivos para superar os desafios do dia-a-dia contábil das micro e pequenas empresas brasileiras. O que me intriga é a responsabilidade assumida pelos contabilistas da Contabilizei por todas as “rotinas eletrônicas” propostas.

Como sabemos, é amplo o conjunto de dispositivos legais que caracterizam a responsabilidade solidária do profissional contabil com o administrador, inclusive na esfera penal conforme o artigo 342 do Código Penal que trata do falso testemunho ou falsa perícia. Também é famoso o artigo 1177 do Código Civil trata da responsabilidade civil do contabilista em caso de produção indevida de informações contábeis, além das normas do COAF, Lei 8.137/90 (crimes fiscais) e Lei 11.101/2005 (Nova Lei de Falências), entre tantas.

Enfim, pode ser que estamos vendo surgir a verdadeira era da contabilidade eletrônica no Brasil, aonde os “sistemas inteligentes” processam as informações com um mínimo de interferência humana (especialmente, de profissionais contábeis), justificando um custo (e preço) bem menor para o “processamento” de informações. E se hoje o valor de $ 99,00 é para um faturamento mensal de até $ 25.000,00, é possível que a empresa em breve aplicará o mesmo valor para empresas com faturamento maior. Vários princípios econômicos (oferta x demanda, curva de aprendizado, economia de escala, etc) justificam esta decisão no futuro.

Mas também pode ser que estamos vendo mais iniciativa que tenta “desumanizar” o serviço contábil, mas que no curto ou médio prazo produz uma grande quantidade de empresas com pendencias tributárias, sem acesso às informações prometidas e com muitas dificuldades decorrentes do “barateamento” dos honorários. Espero que isso não aconteça, pois já existem muitos casos assim no Brasil, que só contribuem para “arranhar” a imagem do contabilista na sociedade.

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Comentários

  • Pois é Tiago, vai entender isso. Em uma realidade em que escritórios contábeis fecham por falta de mão de obra qualificada e os que possuem esta mão de obra não consegue remunerá-la porque as pessoas ainda tem uma visão retrógrada sobre os contadores, um valor destes é um desrespeito com os profissionais da classe, independente se vai ou não ser entregue o trabalho. Isso é feira?
    Quem me ver falando assim pode até pensar sou contador reclamando dos preços mas não é verdade.
    É que não entendo como classes profissionais como as dos advogados se organizam e definem tabelas de preços que são cumpridas e isso gera respeito e valorização à profissão enquanto que os contadores entre si banalizam o serviço que eles próprios prestam.

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